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terça-feira, 9 de abril de 2024

O (novo) secretário dos assuntos “pralamentares”


 

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O novo secretário d'estado dos assuntos parlamentares não é novo. Aliás como o governo. (num país que vive, como se sabe, num regime de alterne, um novo governo é sempre uma espécie de versão mais ou menos refrescada do anterior).

Digamos então que Carlos Abreu Amorim é assim um rapaz da minha idade. Para as crónicas mais amáveis ele é um sujeito polémico; para as outras é apenas um gajo tóxico. Tudo isto porque tem por costume tuitar bacoradas racistas a propósito de tudo e de umas botas.

Eu cá acho, no entanto, que Carlos Abreu Amorim é um sujeito dotado do mais requintado, equívoco, retorcido, talvez perverso (ou pervertido) ou apenas desmiolado, sentido de humor.

Eu explico. Na página onde explana com fulgor e panache todo o esplendor da sua visão imbecil da vida, @cabreuamorim usa sans soucis (isto é, sem jamais me ter pedido amável autorização ou sequer me ter perguntado cortezmente quanto custa) a caricatura que lhe fiz, e que editei aqui, em 2013. Presumo que, sendo ele representante eleito de uma classe que tanto preza a sacro-santidade do direito à propriedade privada, isto configure algo que lhe é muito grato e que os marxistas chamam, com propriedade, apropriação primitiva (Proudhon chamava-lhe, mais sucintamente, um roubo).

Devo sublinhar que isto não me choca nem um bocadinho; nem considero sequer que seja um abuso intolerável. Eu gosto de partilhar. Sempre votei nos comunistas.

Mas acho delicioso - impagável - que ele se reveja tanto nesta caricatura que tenha feito dela o seu emblema. Isso sim, ninguém me tira.

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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Retrato de grupo pralamentar

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Embora a isso nunca me tivesse proposto, pelo menos de forma consciente, tenho vindo a – este é um blogue de desenhos - desenhar, redigir e editar, com as minhas tamanquinhas (isto é, dentro das minhas muitas e pobres limitações) o meu próprio Album de Glórias. Trata-se, sucintamente, de uma espécie de crónica impressiva (uma colecção de cromos – retratos capitosos, caricaturas – ilustrada ou não com textos mais ou menos copiosos mas sempre judiciosos) sobre os elementos mais destacados ou notórios da nossa garbosa classe dirigente.

Depois da crónica pasmada do desinfeliz e acantinflado governo de maioria absoluta de António Costa, na desastrada XV legislatura, eis-nos, passada a página, em novo capítulo, noutra legislatura.

A nova legislatura, a XVIª - com a sua nova classe dirigente, o seu governo também novo e novas correlações de forças - não desfazendo, também promete.

Se a vida nos dá limões, há que espremê-los, façamos limonada.

Ao contrário, porém, do costume, em que privilegio o retrato individual, com estudo fisiognomónico da personalidade e das suas desvairadas idiossincrasias, dou início a este novo capítulo com um, nem por isso menos ambicioso nem menos sucinto e circunspecto, retrato “de grupo”. Um grupo parlamentar. O do partido Chega.

Trata-se - desgraçadamente, ao que me dizem - de um “grupo” que veio para ficar. É precisamente por isso que aqui jaz.

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Nota de rodapé: a inclusão de um ”retrato de grupo” neste “álbum” não impede a futura edição de retratos individuais dos seus mais vistosos integrantes - em função, como é óbvio, dos seus mais que previsíveis destacados desempenhos.

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

outra vez a sífilis ou a gonorreia.




Para não variar demasiado, os donos da comunicação social, o jornalismo de merda e os seus especialistas convidados decidiram outra vez pelos portugueses quais são as suas duas opções. 

A escolha que eles propõem, também para não variar, é outra vez entre a sífilis e a gonorreia. (não imagino por que obscuros e bizarros processos de breinssetormingue mentecapto é que eles chegaram a esta sugestão de escolha se, entre as várias outras opções possíveis também havia o escorbuto, a peste negra, a febre amarela, a diarreia incontinente e até, imaginem, a vida simples, digna e decente).

Para isso organizaram e promoveram com trombetas e violinos “o grande debate”, um combate definitivo, uma espécie de grande final tira-teimas.

Claro que também organizaram, durante toda a santa tarde, um grande pré-match onde as mais rutilantes vedetas do jornalismo de merda, acolitadas por igualmente renomados especialistas convidados, foram comentando os prognósticos antecipados até ao pentelho esmiuçando até ao nervo e esburgando até ao osso as tácticas e as estratégias dos colossos que, à noite, iriam dirimir, ao vivo e a cores, a temática da problemática que, para eles, tanto desinquieta os portugueses.

É óbvio que depois do grande match, pla noite dentro, também fizeram o pós-match, onde os mesmos especialistas de merda protagonizaram penosos, redundantes e intermináveis debates para aferir qual dos formidáveis antagonistas tinha afinal vencido o pleito.


É claro que não vi. Nem o pré-match, nem o match, nem o pós-match. Estive a ler (A época da caça, Andrea Camilleri, sempre inteligente e entranhadamente divertido). Por isso não faço a menor ideia, nem tenho a mínima curiosidade, de saber qual foi o vencedor apurado em tal concílio de especialistas da vida sórdida. Já sei que fui eu que perdi. Eu e a imensa minoria dos que preferiam apenas uma vida simples, digna e decente.